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domingo, 22 de julho de 2007

Profissão: Escritor de rótulos de vinho



Meu filho, o que você quer ser qdo crescer?
Escritor de rótulo de vinho!

Já imaginou que maravilha, que profissão com laivos de ácido lisérgico?

A vida nunca mais seria sem graça. Nunca mais pão pão queijo queijo.

Que libertador. Chega de vida de mentira, com seus tons de cinza e grafite, sim à vida de verdade, ao arco-íris, e ao cor de rosa e grená.

Chega de rock pauleira, eu querio eflúvios de serenata ao pé do ouvido.

Não mais ervas daninhas, viva às tulipas florescendo em meio as avenidas.

Veja o fim das músicas sem rima e sem história, que venha Chico e Elis.

Eu quero a vida de verdade, quero viver num eterno comercial de margarina, onde no café da manhã tem bolo de chocolate que não engorda, pão com margarina derretendo, sol eterno e bom humor matinal, e onde ninguém precisa lavar a louça no fim.

Nada de comer ovo frito. Muito melhor degustar uma bela almofadinha de sabor, com bordas caramelo se estendendo rumo ao infinito, e ao centro notas de ouro derretido.

O dia nunca estaria com sol e algumas nuvens. O dia estaria com aroma das ninfas douradas do vale do Loire, e pequenas fadas cintilantes que por vezes encobrem o astro rei com suas saias de renda transparente.

Oh, cor escarlate com ressonâncias de lilás ao fundo, e consistência de terra molhada onde foi plantada a orquídea que enfeita o casa no comercial de margarina.

Ah, doces aromas de frutas vermelhas com um persistente paladar de pêssegos colhidos pelas virgens do Himalaia no alvorecer do quinto dia de primavera.

Quando eu crescer quero ser feliz: vou escrever rótulos de vinho!


(Publicado originalmente no dia 25/05/07)
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